E as “rapidinhas” estão de volta.
1. “Mulherzinhas ou mulherezinhas?”
O plural das palavras cujo diminutivo é feito com o
sufixo “zinho” deve obedecer à seguinte regra: 1o) pôr a palavra
primitiva no plural (sem o “s”); 2o) acrescentar o sufixo “zinho”
mais o “s”.
Observe o esquema: papelzinho – papei+zinho+s =
papeizinhos; balãozinho – balõe+zinho+s = balõezinhos; animalzinho –
animai+zinho+s = animaizinhos; florzinha – flore+zinha+s = florezinhas.
Assim sendo, segundo a regra, o plural de
mulherzinha seria mulherezinhas (mulhere+zinha+s).
Devido ao uso consagrado, entretanto, é aceitável
também a forma mulherzinhas. Isso vale para as palavras terminadas em R:
florezinhas ou florzinhas, mulherezinhas ou mulherzinhas, barezinhos ou
barzinhos, melhorezinhos ou melhorzinhos…
2. “Luzinhas ou luzezinhas?”
No caso das palavras luzinha e cruzinha, o sufixo
para o diminutivo é “inho” (a letra “z” pertence à raiz da palavra). Não se
aplica, portanto, a regra acima. Basta pôr a desinência “s”: luzinhas e
cruzinhas.
3. “Ultrasonografia tem um ou dois esses?”
Segundo o novo acordo ortográfico, quando usamos
prefixos dissílabos terminados em vogal (auto, contra, extra, anti, sobre,
mini, tele, micro, ultra…), só usamos hífen se a palavra seguinte começa por
“h” ou vogais iguais: auto-hipnose, auto-observação, contra-ataque,
anti-inflamatório, sobre-erguer, mini-internato, mini-hospital, micro-ondas…
O correto, portanto, é sem hífen: ultrassonografia,
com dois esses para manter o som de /s/. Um esse entre duas vogais tem som de
/z/.
4. “A palavra meio só varia quando for um
adjetivo?”
A palavra meio só varia quando significa “metade”.
Em geral, é numeral: “Comeu meia banana”; “Só leu meia página”; “Bebeu uma
garrafa e meia de cerveja”; “É meio-dia e meia”. Pode ser adjetivo também:
“Disse meias verdades”.
5. “Qual é o plural da palavra modem?”
A palavra modem vem de MODulador/DEModulador. Deve
seguir o plural das palavras terminadas em “em”: jovem – jovens; ordem –
ordens; homem – homens; modem – modens.
6. “Tem de ou tem que ser feito algo?”
Tanto faz. Em textos mais formais, prefiro “tem
de”; em textos mais coloquiais, prefiro “tem que”. As duas formas são
aceitáveis.
7. “Comunicamo-lhe ou comunicamos-lhe?”
O uso do pronome “lhe” em ênclise não afeta a forma
verbal. Assim sendo, não cortamos o “s”. O certo é “comunicamos-lhe”. Cortamos
o “s” quando usamos o pronome “nos”: encontramo-nos, reunimo-nos.
8. “Isso é um problema entre eu e o Pedro OU
entre o Pedro e eu?”
Nem uma coisa nem outra. O correto é dizer “entre
mim e o Pedro” ou “entre o Pedro e mim”. Por não ser o sujeito da oração,
devemos usar o pronome oblíquo tônico (mim) em vez do pronome reto (eu).
9. “Quando podemos utilizar o verbo haver no
plural?”
O verbo haver deve ser usado somente no singular
quando significa “existir, ocorrer, acontecer” ou quando se refere a “tempo
decorrido”: “Haverá muitas pessoas na reunião”; “Houve alguns incidentes”;
“Havia dez anos que não nos víamos”.
Em outras situações, o plural é correto: “Os auditores
se houveram bem no seu trabalho”; “Os dirigentes houveram por bem adiar a
reunião”.
10. “Tudo que fizerem ou tudo o que
fizerem?”
Tanto faz. O uso do pronome “o” não é obrigatório.
Sem o pronome “o”, o pronome relativo “que” substitui o pronome indefinido
“tudo”. Com o pronome “o”, é como se disséssemos “tudo aquilo que fizerem”.
Nesse caso, o pronome relativo substitui “tudo aquilo”.
Crítica do leitor
Deu nesta coluna: “É interessante observar a
discordância no primeiro caso: para a ABL é choparia; para o Aurélio é
choperia. Proponho um chope para discutirmos o assunto.”
Comentário do leitor: “Acho que o senhor incorreu
em algo que detesta: reduzir fatos linguísticos a discussões simplistas do tipo
certo ou errado. Se ambos os sufixos têm vida corrente na língua, com função e
significados idênticos, resta comprovar se a aplicação, escolha ou preferência
de um sufixo em relação ao outro, na composição de determinadas palavras, é
arbitrária ou resulta de condicionamentos morfofonéticos ou semânticos. A
eufonia é que deve, provavelmente, ditar a escolha/exclusão de um ou outro
sufixo. Fora isso, nada obstaria, a nosso ver, que se registrassem as duas
grafias: uma como variante da outra.”
Também acho. Nada contra choparia ou choperia. Importante mesmo é o
chope. Propus o chope exatamente porque não vejo motivo para optar por um e
considerar o outro um “erro”. Por que não aceitar as duas formas?
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